19 de setembro de 2011

Observando

          Adentrei o quarto a passos largos e sorrateiros. Evitava qualquer manifestação de barulho.
Me aproximei de sua cama e pus-me meio corcunda para observá-la: sua boca estava entreaberta e sua respiração estava calma. O cobertor estava a cobrindo até os ombros, como de costume. Não estava bagunçado – sinal que seu sono ainda era leve. Ela me confessou que se debatia muito durante a noite e acabava acordando com frio, descoberta. Era em seu sono mais profundo.
Rocei os nós dos dedos em sua face – singelamente, óbvio. Não queria que acordasse, pois não mentalizei nenhuma explicação inteligente para o fato de eu estar em seu quarto, a observando.
Naquele momento ela parecia estranhamente inocente. Sem maldade, sem se confrontar com sua conturbada mente como faz sempre. Parecia mesmo uma criança.
Sorri ao pensar assim. Pura ironia, claro.
Um desejo enorme de protegê-la tomou conta de meu interior. Ela parecia tão frágil.
Queria que tudo desse certo no final. Que não houvesse tanto sofrimento e dor caso isso acabasse mal. Mas almejar isso é patético, afinal, o nosso mundo real é antônimo de um conto de fadas. Não dá para acreditar nessas coisas.
Suspirei e o sorriso foi se desfazendo.
Voltei a minha posição ereta e caminhei para a janela. As cortinas estavam abertas, então as fechei delicadamente, rezando para as corrediças não grunhirem em reação ao meu contato.
Me virei e fui em direção a porta. Voltei os olhos para a sonhadora.
Por um breve momento eu me senti feliz por tê-la por perto. Era alguém agradável – quando queria. Poderia até usar o pronome possessivo quando me referisse a ela. Minha.
O relógio na parede marcava 23:27. Melhor ir dormir.
Vai dar certo minha pequena. Vai dar certo – mentalizei.
Tentei me convencer disso também...
A fechadura fez um clic e fui em direção ao meu quarto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário